Ação Jovem Eldorado 2010











{26 de fevereiro de 2010}   Cooperativas de reciclagem

Universidades atuam na formação e capacitação de cooperativas

CARLOS JULIANO BARROS

Uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva, ao assumir a presidência da República, foi a criação da Secretaria de Economia Solidária, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego. A rapidez dessa iniciativa reflete a preocupação com um dos problemas mais delicados que o Brasil precisa resolver: a geração de emprego e renda. Com o crescimento das taxas de desocupação e de trabalho informal, o movimento da economia solidária surge como um caminho para driblar a pobreza.

Dentre todas as iniciativas de fomento a empreendimentos autogestionários – em que não há patrão nem empregado –, merece destaque a atuação de várias universidades espalhadas pelo país. Através das chamadas Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs), estudantes e professores prestam assessoria a pessoas que queiram se organizar de maneira solidária, em uma cooperativa, por exemplo. A importância das universidades no movimento transparece na composição da equipe do governo responsável pela área. Assim como o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Paul Singer, titular da Secretaria de Economia Solidária, boa parte dos que integram essa nova pasta vem dessas instituições, além de ter participado de ITCPs.

Mas, afinal, o que é economia solidária? “Esse é um problema que a secretaria vai enfrentar, porque muitos integrantes do governo não sabem do que se trata”, afirma André Ricardo de Souza, doutorando pela USP e estudioso do tema. “Ela não se presta apenas a remediar a falta de emprego. É um processo educativo, pois objetiva uma sociedade diferente, norteada por valores menos competitivos”, afirma Singer. “A opção tem de ser por uma economia de iguais, democrática, em que ninguém manda em ninguém”, completa.

Celeiro de militantes

A história da criação das incubadoras remonta à Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, nos anos 1990. “A fome era uma questão emergencial. Mas era necessário pensar em geração de renda e trabalho”, diz Sônia Kruppa, secretária adjunta da Secretaria de Economia Solidária. A primeira ITCP surgiu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1995, e ajudou a constituir dezenas de cooperativas nos morros cariocas.

Hoje, 15 incubadoras, em nove estados, formam a rede universitária de ITCPs. “Em cada uma delas, os envolvidos são de diferentes áreas. Como não temos força para atrair pessoas de todos os ramos do conhecimento de uma universidade, valemo-nos de intercâmbios”, explica Sônia, que também é coordenadora da rede. Na Universidade Federal do Paraná, por exemplo, a incubadora nasceu na faculdade de direito. Na UFRJ, está vinculada ao Centro de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe).

Na opinião de André de Souza, “a universidade é um grande celeiro de militantes da economia solidária”. Na USP, por exemplo, a incubadora surgiu em 1998, comandada por Singer, e hoje atua em três frentes principais. Duas delas são parcerias, firmadas com as prefeituras de São Paulo e de Guarulhos, para formação de empreendimentos solidários na periferia dessas cidades. A terceira consiste na incubação de grupos dentro do próprio campus da instituição. Ao todo, a ITCP-USP acompanha cerca de 50.

A constituição de um empreendimento solidário é um processo demorado. Não é fácil sensibilizar pessoas desempregadas a disponibilizar tempo e dinheiro para tocar coletivamente um negócio, que, mesmo com a orientação de uma incubadora, pode não dar certo. “Para quem é pobre, o emprego formal apresenta uma série de atrativos: seguro-saúde, aposentadoria, seguro-desemprego”, explica Singer. Guilherme dos Santos, coordenador-geral da ITCP-USP, diz que é comum pessoas se envolverem com um grupo até conseguir “coisa melhor”, ou seja, um trabalho com carteira assinada.

Além disso, um dos principais ingredientes para o sucesso de um empreendimento solidário é a confiança que os cooperados depositam uns nos outros. Para aqueles que já se conhecem, a dificuldade é menor. Mas e para os que nunca se viram? “O caminho é orientar a pessoa a partir do diálogo, e não do convencimento de que o cooperativismo é a nova moda”, explica Guilherme.

Os formadores – como são chamados os que têm a missão de assessorar um grupo –, ao mesmo tempo que procuram capacitar as pessoas para administrar um negócio, desenvolvem um trabalho de “recuperação do sujeito”, como afirma Guilherme. “O indivíduo acha que está desempregado por culpa própria, que não consegue achar seu lugar na sociedade.”

Sônia, que também faz parte da ITCP-USP, diz que algumas pessoas chegam a apresentar a carteira de trabalho para os formadores. “Nós não damos emprego a ninguém. O que temos é uma proposta de organização dos trabalhadores que eles próprios terão de decidir se querem experimentar”, afirma. Para Guilherme, o principal objetivo é “capacitar as pessoas a tocar um negócio de forma autônoma. Não é uma relação assistencialista. Quando acaba a incubação, o grupo tem de seguir sozinho”.

Na ITCP-USP, os estudantes, reunidos em Grupos de Pesquisa, Ensino e Extensão Multidisciplinar (GPEMs), preparam cursos sobre história do cooperativismo e administração de empreendimentos solidários, entre outros assuntos. Um fato curioso é que muitos formadores também desenvolvem habilidades que extrapolam seus campos de conhecimento. Não é raro ver estudantes de economia realizar dinâmicas de grupo, especialidade de alunos de psicologia. “A economia solidária propõe uma reestruturação da universidade. Não é o conhecimento parcelado que resolve”, diz Sônia.

Cooperativismo oficial

As cooperativas não são uma novidade no Brasil, tanto que a lei 5.764, que rege seu funcionamento, data de 1971. Em tese, elas constituem uma forma de organização do trabalho em que todos os membros do empreendimento se responsabilizam pela atividade econômica a que se propuseram. O texto da lei não faz menção à estrutura das cooperativas nem exige a criação de cargos. Na verdade, apenas determina que deve existir um conselho administrativo ou diretoria. Mas há diferenças fundamentais entre a economia solidária e o chamado “cooperativismo oficial”, o qual conta até com uma entidade de representação em nível nacional, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Para Sônia, muitas cooperativas ligadas à OCB reproduzem a hierarquia das grandes empresas, ao criar cargos de gerente ou presidente, por exemplo. Dessa forma, o princípio da autogestão, sagrado para a economia solidária, fica comprometido. “Nós nos pautamos por um processo de radicalização da democracia, cada cabeça um voto”, afirma.

Outro fenômeno bastante recorrente são as “coopergatos”. Para diminuir gastos com encargos trabalhistas, muitas empresas demitem seus empregados e terceirizam a mão-de-obra, contratando cooperativas que não estão muito preocupadas com a autonomia de seus membros.

Mudar, então, a legislação sobre o cooperativismo é um dos primeiros problemas a ser enfrentados pela secretaria nacional. Para Ângela Schwengber, coordenadora do Oportunidade Solidária, programa da prefeitura de São Paulo, também é necessário reconhecer outras formas de organização dos trabalhadores que não a cooperativa. “Há empresas associativas que funcionam sob os princípios da economia solidária mas que não são cooperativas, porque nem sempre é viável formar uma”, diz ela. De acordo com a lei, são necessárias, no mínimo, 20 pessoas físicas para constituir uma cooperativa. Na opinião de Ângela, alguns empreendimentos, devido a uma situação de informalidade, ficam “à margem do sistema econômico”, sem espaço para comercialização e acesso a crédito, por exemplo.



Uso da embalagem como isolante térmico ajuda a reduzir a temperatura nos ambientes em até 8º C

 São Paulo – Caixinhas de leite que sempre vão parar no lixo podem ser reaproveitadas e transformadas em isolante térmico alternativo para residências e galpões, reduzindo a temperatura no interior dos imóveis em até 8º C.

A utilização das embalagens Tetra Pak pode ser feita de forma artesanal, pelo próprio morador, diminuindo os custos. Outra opção são as telhas feitas de caixas de Tetra Pak recicladas, vendidas com preços até 25% menores do que os materiais concorrentes.

A idéia de reaproveitar as embalagens de forma artesanal virou tema de estudo na Unicamp e resultou no Projeto Forro Vida Longa – uma alusão ao leite Longa Vida.

O professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e coordenador do projeto, Celso Arruda, explica que a proposta partiu do engenheiro Luís Otto Schmutzler, que juntamente com professores da faculdade desenvolveu todo o processo de aproveitamento das caixinhas de Tetra Pak para uso em habitações populares. Arruda afirma que a transformação das embalagens em isolante é simples e pode ser feita por qualquer pessoa.

Como fazer – O primeiro passo é abrir totalmente as caixinhas, descolando as emendas e fazendo um corte vertical para que a embalagem fique completamente plana. Em seguida, é feita a limpeza com água, sabão em pó e um pouco de desinfetante. Depois de secas, as embalagens devem ser coladas lado a lado, com cola branca ou de sapateiro, formando uma manta sobre a laje superior da casa, abaixo do telhado.

Para o perfeito funcionamento do isolamento térmico, é muito importante que a manta não encoste nas telhas, deixando um espaço mínimo de dois centímetros para a circulação do ar. O professor da Unicamp diz que a manta de Tetra Pak bem aplicada tem o mesmo desempenho dos placas de alumínio (foils) vendidos no mercado, ajudando inclusive na proteção contra goteiras provocadas por falhas no telhado.

A explicação está na composição das caixinhas, formadas por 5% de alumínio, 20% de plástico e 75% de papelão. O alumínio reflete mais de 95% do calor, ajudando a diminuir a temperatura interna dos ambientes em até 8º C.

Baixo custo – Para Arruda, as mantas de Tetra Pak são uma boa solução para favelas, habitações populares e galpões, já que a instalação tem custo muito baixo, não exige mão-de-obra qualificada e também não há compromisso com a estética.

A idéia, no entanto, tem conquistado um público maior. Recentemente, a solução foi adotada pela arquiteta Consuelo Carleto na construção da nova unidade da fábrica de calçados Pé de Ferro, em Franca (SP). No projeto, as caixinhas foram coladas no seu formato original, sem serem desmontadas antes, para redobrar a proteção térmica nos 200 m² que cobrem a área administrativa da empresa.

“As pessoas trabalham melhor com a temperatura agradável e os gastos com ar-condicionado diminuem bastante.”

Sem ir para o lixo – Ainda há o lado ecológico, já que as embalagens que vão para o lixo levam dezenas de anos para se decompor nos aterros. Para incentivar a reciclagem das caixinhas, a Tetra Pak desenvolveu uma tecnologia para que fabricantes pudessem transformar o alumínio e plástico presente nas embalagens em telhas e chapas planas.



et cetera